Esse projeto ambiciona ampliar a capacidade de monitoramento e combate a conteúdo racista publicado em redes sociais. Atuamos na construção de métodos e técnicas capazes de organizar o conhecimento em torno das variadas formas de racismo em ambientes digitais. Em outras palavras, é um modo de abordar suas dimensões mais marcantes, não apenas a ofensa em si, mas em como essa ofensa pode se estruturar politicamente, socialmente e culturalmente. Consideramos que o discurso dessa natureza pode se apresentar publicamente de várias formas (xingamentos diretos, ofensas veladas, frases de ataque, etc.), assumir formatos diversos (texto, imagem, vídeo etc.), abrigar-se de modo disperso por múltiplas redes, além de ter graves impactos políticos e sociais.
O propósito é construir um centro multidisciplinar de pesquisa e aplicação de serviços capaz de contribuir decisivamente para a criação de ambientes sociais digitais mais democráticos, tolerantes, justos, pluralistas e respeitosos com minorias e grupos socialmente mais vulneráveis.
Na prática, o projeto se desenvolve em três linhas de atuação:
identificar discurso de ódio online relacionado a questões raciais e quais são suas características;
estabelecer padrões, índices e diretrizes para orientar a detecção de conteúdo de ódio racial nas redes digitais;
criar espaços de cooperação técnico-científica (pesquisas, cursos e treinamentos) entre agentes públicos e demais envolvidos da sociedade civil para monitorar e combater tal discurso.
Resultados
>> Racismo e futebol: como a questão racial domina conversa sobre jogadores no Twitter
O período da Copa do Mundo direciona os olhares de todo o planeta para a competição e tudo que está em seu entorno. O evento, no entanto, não está isolado dos problemas que afetam a sociedade, vide os casos de racismo contra Mbappé e Camavinga, por exemplo, ocorridos ainda nas vésperas do mundial. Como grandes estrelas do esporte, os jogadores brasileiros que estarão na Copa já vivenciaram inúmeros casos de racismo – o que ficou evidente na presente pesquisa, vinculada ao projeto Observatório de Racismo nas Redes. Este estudo avaliou como o racismo se relaciona ao futebol ao investigar as menções a diversos atletas do Brasil no Twitter. Comparativamente, dentre personalidades negras de grande projeção na internet, ficou clara a grande visibilidade que as atitudes e posicionamentos dos jogadores de futebol assumem, sobressaindo-se no ambiente digital e os posicionando como vítimas em potencial de ofensas racistas propagadas nas redes. Exemplo disso é o caso de Vini Jr., conforme os dados abaixo:
A hashtag #bailavinijr reuniu os principais debates sobre o tema no Twitter (dentro da amostra da pesquisa). No período analisado, de 30 dias, este caso representou o maior pico de menções a um usuário, alcançando o número de 28,21 mil menções e 8,8 milhões de visualizações ao vídeo divulgado pelo jogador.
Outros casos relacionados a jogadores de grande repercussão, como Neymar e Paulinho, revelam que o racismo aparece como tema subjacente e transversal a outras temáticas de naturezas diversas. Em meio a inúmeras manifestações de apoio e reforço de discurso antirracista a partir de episódios de grande repercussão nas redes, alguns perfis insistem no racismo. Para isso, utilizam fatos ou situações vividas pelos jogadores para reforçar discurso racista. Nesses casos:
Vini Jr. é chamado de “Negueba” ou “Neguebinha” (134 menções), uma referência a outro jogador negro do Flamengo muito criticado pela torcida em determinado momento.
Já o jogador Paulinho, sofreu ataques após declarar apoio político a Lula, quando recebeu mensagens o chamando de “macumbeiro” (51 menções) – em episódio acontecido em 2021, quando o jogador comemorou um gol nas Olimpíadas fazendo referência a um Orixá. O repertório, no entanto, não se restringe a esses termos: foram encontradas referências a “favelado” (36 menções), “mulambo” (58 menções) e “fedorento” (6 menções).
Isso significa que mesmo quando o assunto acerca do qual tais atores se manifestam não está necessariamente relacionado a esta temática, a questão racial é trazida à tona, expressando-se muitas vezes de forma racista.
Um relatório será publicado em breve.
>> Racismo Invisibilizado: o caso Moïse nas redes
O relatório abaixo é um estudo sobre a repercussão do caso Moïse nas redes. Dentre os achados mais relevantes, está o fato de que a questão do racismo ainda aparece muito colateralmente mesmo em casos que geram tanta comoção, como o de Moïse. Menos de 10% dos comentários no Twitter e no Youtube citam termos ligados à questão racial. Clique e confira o relatório na íntegra.
O período da Copa do Mundo direciona os olhares de todo o planeta para a competição e tudo que está em seu entorno. O evento, no entanto, não está isolado dos problemas que afetam a sociedade, vide os casos de racismo contra Mbappé e Camavinga,...