A manifestação do racismo no Brasil acompanha nossa sociedade há muitos séculos, direcionando preconceitos, formatando discursos de ódio e espalhando desinformação sobre a história da população negra. Negar espaços políticos é, nesse contexto, o reflexo cruel dessas assimetrias. Em 2024, o Brasil registrou a candidatura de quase 80 mil mulheres negras para todos os cargos (prefeita, vice-prefeita e vereadora). Pode parecer muito, mas isso representa apenas 17% do total de candidaturas em todo o território nacional. Se formos considerar as pessoas eleitas, a porcentagem de mulheres negras cai para 10% do total.
Esta pesquisa se baseia na análise de postagens no Instagram de 21 candidatas negras nas eleições de 2024. O recorte de candidatas foi feito com base em dois critérios. Primeiro, consideramos a autodeclaração racial das candidatas no TSE, selecionando apenas aquelas que se declararam como pretas ou pardas. Segundo, identificamos aquelas que tinham contas verificadas no Instagram, o que era uma condição para que conseguíssemos fazer a coleta.
Apesar de termos uma amostra pequena, os perfis que conseguimos acompanhar são de mulheres com origens distintas, de partidos e visões ideológicas diversas e de todas as regiões do país. A ideia não é tirar conclusões definitivas a respeito das candidatas negras no país, mas apontar caminhos de compreensão sobre como seus discursos se formam, quais as semelhanças e diferenças e, sobretudo, dar mais visibilidade a um conjunto de discursos e anseios de uma parte da população brasileira muitas vezes subestimada.